Monday, November 30, 2009

Ódio, ódio, ódio... É isso que consome... Se me consome ou aquilo que penso não tem a minima diferença...
"Divertido" estar sozinho novamente. E que se foda o resto do mundo.

Monday, November 09, 2009

A Escuridão

-Bem ali, vê?
Falou calmamente, descruzando um braço e apontando na imensidão. Deitados sobre um tablado de madeira, junto a uma avenida movimentada, pareciam estar em outro mundo e não no centro de uma cidade enorme. A noite começava a avançar, mas conseguiam sentir o cheiro de manteiga sobre uma pipoca recém feita há alguns passos de onde estavam. Ouviam pessoas, risadas e carros apressados, mesmo sem horários.
-Não há nada ali, no máximo, aquela.
-Não... Você não está vendo com os olhos bem abertos. Pra mim é tão claro. Está ali, veja. – apontou novamente, indicando com precisão e desenhando com os dedos finos.
Forçou os olhos miúdos e soltou um suspiro. Nada, só a escuridão.
-As luzes daqui ofuscam tudo, como você consegue ver isso?
-Eu apenas vejo, está tudo ali. Se você desligasse a cidade e soprasse essa poluição, bem ao estilo do lobo mal, conseguiria ver. O céu está cheio delas. Parece que alguém está iluminando um papel cheio de furinhos...
-Mas como você enxerga tudo isso... –Estalou os lábios e se aconchegou no ombro amigo.
-Eu não vejo, lembra? –Deu um sorriso doce, lhe dirigindo os olhos opacos para o perfume suave ao seu lado.
-As vezes esqueço que você é cego... Consegue ver melhor do que muita gente... –Murmurou, encarando a escuridão à frente deles.
-Como bem disse uma raposa ao monarca de um pequeno asteróide: "Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos".

Oblivion

Sacolejava em silêncio no banco surrado. A vida passava em flashes e vultos do lado de fora do ônibus, enquanto este subia a avenida carregada em velocidade. Um tango deliciosamente triste formava um verdadeiro espetáculo no espaço vazio do veiculo, observando uma dançarina de pele morena e vestido preto bailar solitária.
Seus movimentos suaves o encantavam e clamavam pela atenção absoluta. Aproximava as mãos do rosto com barba por fazer e o contornava rente à pele. A barra rodada de tecido suave acompanhavam cada passo da cintura fina com um leve atraso, dando um charme a mais ao espetáculo.

Vestia um sorriso cínico e enigmático que à cada compasso se transformava, indo de sedução até uma dor carinhosa de saudade. E ele sentia uma lágrima gélida escorrer pelo rosto quente, enquanto a pequena se divertia com cada nota da harmonia. Entre uma música e outra, abriu lentamente uma das laterais do vestido para revelar sua pena, protegida por uma meia sete-oitavos. Gargalhou graciosamente e o pegou pelas mãos, puxando-o para o seu palco.Ele não mais estava com um blazer surrado e calça jeans, mas roupas finas, que o deixavam à par da moça à sua frente. Com toda a suavidade que pode, limpou a lágrima do rosto com o indicador e o beijou no rosto, permitindo que ele sentisse o perfume natural daquela pele de seda.
Trouxe as mãos grandes e desajeitadas para a cintura fina, enlaçando seu pescoço com os braços nus. Foram se aproximando e aproveitando o começo sereno, valsando bem lentamente, olhos fixos, sorrisos tenros.
Após a introdução, o grande mestre Piazzolla deu sua entrada e seus músicos foram seguindo sua regência na escuridão. Sob a luz de velas e lamparinas, ele percorreu a cintura, passando pelo pequeno pedaço de pele da coxa e logo pela meia até chegar no joelho. Ela o enlaçou e sorriu, tirando a perna e o empurrando delicadamente com os dedos. Queria que a observasse, queria sentir o desejo, a paixão. Luxúria.
Colocando um pé na frente do outro, sem emitir sons, mas seguindo os que eram feitos, o deixou sem reação, tempo o bastante para ela começar a guiar a dança. E isso se seguiu até que esbarram em alguma coisa, o que ocasionou risos, mas não impediu de continuarem, com ele na liderança.
E as notas foram crescendo, os violinos cada vez mais agudos, cellos em fortíssimos, e o ritmo cada vez mais frenético. Dançaram por todo o salão, em ímpetos de desejo, sentindo o corpo um do outro por cima e por baixo dos tecidos, sem perder, um pouco, a classe da dança em questão.
Subitamente, ele a atirou contra uma parede, aproveitando uma nota longa para roçar os lábios nos dela e a virar de costas, para mergulhar nos cabelos escuros da nuca. O que ouviu foi um ronronar, junto de um sorriso suave de entrega. Mas a música foi impiedosa com eles e com dissonâncias, entrou em sem movimento mais melancólico.
Todo o calor do desejo e da paixão se transformaram em uma expressão de lamúria. A maquiagem impecável dela, que acreditava estar borrada pelo suor, foi maculada por pequenas lágrimas que escorriam.
Ele a puxou para si, e voltaram a dançar, num misto de ódio e amargura. O desespero ia tomando conta dos seus corpos e a tensão da música só ajudava à aumentar tudo aquilo. Mas logo foram vindo as resoluções e os passos mais difíceis, prontos para um Grand Finale. Seguiam cada improviso com maestria até o acorde final, onde se abraçaram, ofegantes. Ele quis falar mas sentiu o dedo fino sobre os lábios. Recebeu um sorriso e um beijo, antes de ser jogado de volta para o ônibus.
Esfregou o rosto e fechou a janela, impedindo que a chuva esporádica o atingisse. Sua parada não demorou a chegar. Levantou e deslizou para fora, ajeitando o paletó escuro. Enveredando por uma viela estreita, verificou sua arma semi-automática e a munição que levava no coldre.
Parou por um instante e tirou uma aliança dourada do bolso, observando seu brilho sob uma luz fraca. Ainda via uma pequenina mancha vermelha numa das bordas. Fechou a mão sobre ela e a socou novamente dentro da calça. Olhou para a mão esquerda, contemplando o par, enquanto voltava a caminhar.
É... Aqueles que trabalham com a morte, não deviam pensar tanto na vida...

Começando, pelo meio.

Bueno...

Por insistência quase fatal da dona Natália Alonso, vulgo "terror-da-inclusão-digital, acabei por criar isso daqui, de forma a expor minhas coisas. Ainda não sei bem o que por primeiro, já que meus textos se perderam em um hd fritado. Andaram lançando Pulsos eletro-magnéticos no meu quarto, é foda.
Mas pensarei em algo, ou não.Esperar pra ver no que dá.